sexta-feira, 3 de maio de 2013

A OBRA DE PIER PAOLO PASOLINE, O FILME “O EVANGELHO SEGUNDO SÃO MATEUS” CONTINUA ATUAL PORQUE RESGATA O QUANTO AINDA ESTÃO PRESENTES NOS DIAS DE HOJE OS MESMOS PARADIGMAS QUE NORTEAVAM O DIA A DIA DA HUMANIDADE A MAIS DE 50 ANOS.



VERSÃO DO FILME  "O EVANGELHO SEGUNDO SÃO MATEUS" COMPLETA.

Um filme inesquecível que todo ser humano independente de ser cristão, 
católico ou não, deveria assistir para não se deixar ser 
confundido pela mistificação da religião. 




A eleição do Cardeal argentino Mario Jorge Bergoglio que adotou o nome de Francisco, inevitavelmente nos remeteu a figura histórica de São Francisco de Assis e a sua missão a favor da caridade, em um contesto sempre atual, de ação contra a pobreza e a desigualdade.

É sempre bom lembrar que não é de hoje que, historicamente, o catolicismo intercala breves momentos de reflexão sobre sua própria situação e perspectiva. 


Há um pouco mais de meio século, em 1958 a Igreja Católica foi sacudida pela eleição do Papa João XXIII, tido inicialmente como de transição, que no decorrer de seus breves quase cinco anos de papado provocou reformas inimagináveis para a maioria de seus pares na própria cúpula da Igreja a partir da convocação do Concílio Vaticano II, que teve como objetivo iniciar uma renovação na Igreja, basicamente propondo uma nova forma de explicar a doutrina católica.


Diante desses dois momentos históricos tendo como elo de ligação a obra iniciada e não acabado pelo Papa João XXIII e este momento atual que estamos começando a vislumbrar com a eleição do Papa Francisco é inevitável a lembrança da obra de Pier Paolo Pasolini , o filme “O Evangelho Segundo São Mateus”.


Nos anos sessenta do século passado e hoje a humanidade se defronta com um momento de crise que leva inevitavelmente ao questionamento de seus próprios valores.


Nesse contexto, a leitura de Pasoline em sua obra esta mais atual do que nunca, na medida em que resgata em todo seguidor do cristianismo, independente de católico ou não, o olhar sobre o significado da verdadeira mensagem de Jesus Cristo.


O filme que a própria Igreja Católica incluiu em uma lista de 45 aprovados por ela mesma mostra um Cristo diferente e humanizado, o roteiro é todo feito com o que foi escrito originalmente no Evangelho São Mateus. Na realidade são usadas bem poucas palavras, exceto os duros discursos do próprio Jesus Cristo, pois o que sobressai são as imagens que tem nas crianças a principal marca. Impressiona e muito as mensagens passadas pelos semblantes de enquadramento dos personagens e também do povo que participa dos acontecimentos, na maioria das vezes transmitindo suas mensagens com um simples olhar.


É o que podemos contatar em dois momentos marcantes para a mensagem do filme. Primeiro, as duas versões de Maria mãe de Jesus, no início do filme o semblante de tranqüilidade que transmite a consciência de seu papel no contesto e o no final o desespero dela já envelhecida com a crucificação de seu filho para depois sobressair a volta da consciência inicial com a ressurreição.  Segundo, a figura de Judas, sempre soturna, pairando nele um ar de desconfiança com os atos de Jesus, o que fica claro quando uma mulher idosa passa óleo perfumado na cabeça de Jesus e Judas questiona como que se aquele ato representasse um gasto desnecessário que poderia ser revertido em caridade, ou seja, ações que justificarão por si só seu ato de traição, que terminará em suicídio e revelará seu destino de infame, aliás, como muito bem definiu o escritor argentino Jorge Luis Borges, não por coincidência um dos preferidos do Papa Francisco, em seus personagens nos contos do clássico “A História Universal da Infâmia”. 


Conclusão, não podemos deixar de constatar que Pier Paolo Pasolini, confronta os personagens; Maria simplesmente expressa a esperança e fé para a humanidade, cabendo a Judas, o contra ponto, revelado através de um oportunismo que, na realidade expressa sua falta de fé e sua opção pelo fisiologismo, exatamente como no atual momento que a nossa sociedade vive, com nossos valores postos a prova todo momento e confrontados com a necessidade de resgatar nossa opção pela caridade em meio a uma sociedade de consumo que cada vez mais sempre tenta nos conduzir no sentido oposto do egoísmo.



Flávio Luiz Sartori


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