sábado, 22 de fevereiro de 2014

CAMPINAS: GOVERNO JONAS DONIZETTE QUER ENTERRAR O CARNAVAL, FESTA DO SAMBA SERÁ NAS CERCANIAS DE UM CEMITÉRIO.


Adoniran Barbosa mostrou para o Brasil que São Paulo não era
o "Túmulo do Samba". Aqui em Campinas o Carnaval de 2014
será nas cercanias de um cemitério.


Samba no cemitério? Só se for com humor.


Direto do site Brasil Crítico http://brasilcritico.com.br/

Publicado no Jornal Correio Popular de 22 de Fevereiro de 2014. Página 02.

O NOVO TÚMULO DO SAMBA

Por José Vieira

De todas as medidas atabalhoadas que um governo poderia adotar, infelizmente, coube ao comando da cidade de Campinas/SP se superar pelo ineditismo: realizar desfiles de carnaval na avenida que fica defronte o Cemitério Parque Nossa Senhora da Conceição, também chamado de “Cemitério dos Amarais”, ocasionando a transferência de possíveis velórios a serem realizados no local para o Cemitério da Saudade, já saturado.

É impressionante a falta de planejamento quanto a esse tipo de festejo profano, da mesma forma que causa espécie o desrespeito a um local sagrado, pois assim são considerados os cemitérios desde a primeira Constituição do Brasil, que data de 1824.

Que os mortos não se incomodarão, isso parece evidente. Mas e a áura de respeito e de santidade do local onde os despojos do ser humano são depositados quando sua alma imortal deixa este mundo? É justo que as pessoas sejam submetidas a mais um incômodo em um momento de tristeza, como é a hora da morte, tendo que se deslocar para outro local, distante, a fim de velar seu ente querido? E aqueles que adquiriram jazigos no “cemitério-sambódromo”, serão indenizados caso necessitem usar o espaço e, por falta de planejamento do governo municipal, não possam fazê-lo?

Não se sabe, ainda, a opinião dos sambistas integrantes das escolas que desfilarão, mas a população do entorno já se manifesta com vigor pelo respeito ao local sagrado.

Se a Prefeitura quer realizar eventos, que se mobilize e providencie a construção de um centro de convenções, nos moldes do Anhembi, em São Paulo, de modo que tenhamos também uma passarela do samba com mais segurança e conforto para os munícipes e visitantes. Além de estabelecer um local digno para os desfiles, durante todo o resto do ano seria possível estabelecer uma saudável concorrência com a capital paulista, trazendo para Campinas eventos como a Couro Modas e a Feira do Automóvel, dentre outros.

Conforme anunciado na imprensa, o governo pretende gastar dois milhões de reais para realizar as obras que viabilizarão o uso do novo espaço. Se quem concebeu tal ideia tivesse pensado um pouco mais sobre o assunto, tendo em vista a experiência do ano passado, que já não foi boa, talvez alguma coisa melhor tivesse sido feita.

O improviso em pequena escala às vezes produz bons resultados, mas sempre fugazes. No caso de uma cidade com mais de um milhão de habitantes e com a riqueza que tem, improvisar, num caso como esse, beira o ridículo.

A cidade é grande, possui diversos locais que podem ser utilizados, inclusive com acesso facilitado ao povo, com mais transporte público, e também com mais benefícios para as escolas de samba, que agora terão que deslocar seus carros alegóricos por longa distância, a preços majorados.
Sabemos que muitas pessoas não gostam de carnaval e, se pudessem, o inviabilizariam; mas daí ao ponto do poder público de Campinas  gerir essa festa popular como tem feito, é o mesmo que enterrar as expectativas dos integrantes das escolas de samba da cidade de ter condições de planejar com mais tempo e atenção suas exibições.

Diante disso, até que alguém recobre o juízo e mude o local dos desfiles, em rasgada ironia, pode-se dizer que a cidade conquistará mais um título, a exemplo do apelido maldoso que o Estado de São Paulo já teve anos atrás: o de ser, literalmente, o novo túmulo do samba.


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